Reserva Biológica do Atol das Rocas
Reserva Biológica do Atol das Rocas
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Reserva Biológica do Atol das Rocas
Reserva Biológica do Atol das Rocas

Reserva Biológica do Atol das Rocas

A Reserva Biológica (REBIO) do Atol das Rocas é gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) como uma Unidade de Conservação (UC) de proteção integral do Bioma Marinho Costeiro. Foi a primeira UC marinha criada no Brasil, pelo Decreto nº 83.549 de 05 de junho de 1979, com uma área de 37.820 ha, englobando o atol em si e a área até a isóbata de 1.000 m. A REBIO tem como principal objetivo a preservação da fauna e flora existentes em seus limites, vetando a visitação pública com fins de turismo, sendo autorizadas somente atividades científicas, de monitoramento e de fiscalização. O Atol das Rocas está localizado no sudoeste do Oceano Atlântico Equatorial (3°51’S e 33°49’O), a 266 km da costa do Rio Grande do Norte. Rocas é o único atol no Atlântico Sul e um dos menores do mundo, tendo forma elíptica e cerca de 5,5 km2 (Kikuchi & Leão, 1997; Kikuchi, 2002). Uma diferença importante do Atol das Rocas para os atóis do Indo-Pacífico é que a laguna permanente se restringe à uma porção do Atol, neste caso a nordeste. A região central do atol é preenchida pelo mar durante a maré-alta e fica exposta ao ar na maré-baixa, formando um grande depósito arenoso no pico do recuo diário da água (Kikuchi & Leão, 1997; Villaça, 2009).
O anel recifal é composto majoritariamente por algas calcárias incrustantes (CCA, do inglês crustose coralline algae), principalmente Porolithon, gastrópodes vermetídeos, além de foraminíferos incrustantes (Homotrema rubrum) e corais (Kikuchi & Leão, 1997; Gherardi & Bosence, 2001). Pode-se reconhecer uma subdivisão desse anel em uma porção maior, voltada à direção do vento predominante (barlavento) e uma menor, no lado oposto (sotavento). A porção mais exposta aos ventos é onde se situa o crescimento mais ativo do recife, sendo um pouco mais elevada do que a parte oposta (Gherardi & Bosence, 2001). Nesta região, são encontrados blocos do recife expostos, mesmo nas marés mais altas, evidenciando o pretérito nível do mar acima do atual e nomeando o atol. Além do anel recifal e da laguna, o Atol das Rocas é formado também por duas ilhas biogênicas (Farol e Cemitério), compostas por fragmentos de diversos grupos de organismos mineralizadores, além de arenitos na última (Kikuchi & Leão, 1997).
O platô recifal fica entre a crista recifal e a parte central arenosa do atol, como terraços de relevo baixo. A superfície do recife é colonizada por algas frondosas, seguidas por uma associação de CCA e gastrópodes vermetídeos; enquanto no interior da estrutura recifal, cinco espécies de corais aparecem como grupo subordinado às CCA (Kikuchi & Leão, 1997). Esta formação é recoberta por poucas espécies de macroalgas ou cnidários, porém com aparente ampla cobertura. As principais macroalgas dominando o platô são as rodofíceas Digenia simplex e Gelidiela acerosa, a clorofícea Dictyosphaeria cavernosa, além de muitos filamentos de cianobactérias e de algas pardas. Os cnidários Zoanthus sociatus e Palythoa caribeorum são também conspícuos neste ambiente.
O platô fica quase totalmente submerso nas marés altas e quase completamente emerso nas marés baixas, quando se formam diversas e distintas piscinas-de-maré; na maioria isoladas do lado externo do atol, mas algumas conectadas com o oceano aberto. Na borda norte do platô, há um singular sistema de fendas no recife, recobertas por CCA e esponjas (Moraes et al., 2006). Na maioria das piscinas, as algas foliáceas são abundantes, destacando-se a clorofícea Caulerpa spp., a rodofícea Galaxaura sp., algumas feófitas da ordem Dictyotales e cianobactérias filamentosas (Villaça et al., 2010).
No início dos anos 1970, foi realizado o primeiro levantamento das macroalgas do Atol das Rocas por Oliveira-Filho & Ugadim (1974, 1976), que identificaram 93 táxons, 53 rodofíceas, 18 feofíceas e 22 clorofíceas, sendo 20 novas ocorrências para o Brasil: nove rodofíceas, três feofíceas e oito clorofíceas (Oliveira-Filho & Ugadim, 1976). No início dos anos 2000, novos estudos sobre as macroalgas do Atol das Rocas foram desenvolvidos, os quais ampliaram de 96 para 143 o número de registros no local (Villaça et al., 2010). Na plataforma externa ao atol, a presença de CCA está associada com a estruturação de extensos Bancos de Rodolitos (~100 km2), os quais coalescem e formam recifes mesofóticos, junto com corais e esponjas, entre 50-65 m de profundidade. Nestes ambientes, ao menos quatro espécies de CCA contribuem na formação dos rodolitos: Hydrolithon rupestre, Lithothamnion crispatum, Pneophyllum sp., Sporolithon ptychoides (Amado-Filho et al., 2016).
A flora marinha da REBIO do Atol das Rocas é muito diversa, com registros de 153 macroalgas, representadas por 79 Rhodophyta (algas vermelhas), 37 Chlorophyta (algas verdes), 37 Ochrophyta (algas pardas). Merece destaque a coleção feita pelo Prof. Roberto Villaça do Herbário HUNI (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). Observamos, porém, a necessidade de transpor um problema que é a falta de material testemunho de 76 Táxons nos Herbários nacionais (i.e., sem exemplares/vouchers depositados; Anexo). O CNPq concedeu bolsas de Produtividade em Pesquisa (LT Salgado, JMC Nunes) e de Pós-Doutorado Sênior (CS Karez) e de Iniciação Científica (CC Silva) que contribuíram para elaboração desta Lista.
Lista de 76 espécies macroalgas marinhas da Reserva Biológica do Atol das Rocas sem registro em herbário.

Filo Família Gênero Epíteto específico Referência
Chlorophyta Anadyomenaceae Anadyomene stellata 10
Chlorophyta Bryopsidaceae Bryopsis pennata var. secunda 10
Chlorophyta Caulerpaceae Caulerpa cupressoides var. lycopodium 10
Chlorophyta Caulerpaceae Caulerpa pusilla var. mucronata 10
Chlorophyta Chaetosiphonaceae Ulvophyceae familia incertae sedis Blastophysa rhizopus 11
Chlorophyta Phaeophilaceae Phaeophila dendroides 10
Chlorophyta Ulotrichaceae Urospora penicilliformis 10
Chlorophyta Ulvaceae Ulva flexuosa 10
Chlorophyta Ulvaceae Ulva lactuca 10
Chlorophyta Ulvellaceae Ulvella scutata 10
Chlorophyta Ulvellaceae Ulvella viridis 10
Ochrophyta Acinetosporaceae Feldmannia indica 10
Ochrophyta Acinetosporaceae Feldmannia lebelii 10
Ochrophyta Acinetosporaceae Feldmannia paradoxa var. donatiae 11
Ochrophyta Bachelotiaceae Bachelotia antillarum 10
Ochrophyta Chordariaceae Kuetzingiella elachistiformis 10
Ochrophyta Dictyotaceae Canistrocarpus crispatus 10
Ochrophyta Dictyotaceae Dictyota crenulata 10
Ochrophyta Dictyotaceae Dictyota dichotoma 10
Ochrophyta Dictyotaceae Dictyota dichotoma var. intricata 10
Ochrophyta Dictyotaceae Dictyota jamaicensis 11
Ochrophyta Ectocarpáceas Ectocarpus variabilis 10
Ochrophyta Sargassaceae Sargassum vulgare 10
Ochrophyta Sphacelariaceae Sphacelaria brachygonia 10
Ochrophyta Sphacelariaceae Sphacelaria rigidula 10
Rhodophyta Acrochaetiaceae Acrochaetium microscopicum 10
Rhodophyta Acrochaetiaceae Acrochaetium phacelorhizum 10
Rhodophyta Acrochaetiaceae Acrochaetium unipes 10
Rhodophyta Bonnemaisoniaceae Asparagopsis taxiformis 10
Rhodophyta Ceramiaceae Acrothamnion butlerae 11
Rhodophyta Ceramiaceae Antithamnion antillanum 10
Rhodophyta Ceramiaceae Antithamnionella breviramosa 11
Rhodophyta Ceramiaceae Antithamnionella graeffei 10
Rhodophyta Ceramiaceae Centrocerocolax ubatubensis 10
Rhodophyta Ceramiaceae Ceramium luetzelburgii 10
Rhodophyta Ceramiaceae Ceramothamnion brasiliensis 10
Rhodophyta Ceramiaceae Ceramothamnion codii 10
Rhodophyta Ceramiaceae Ceramothamnion vagans 10
Rhodophyta Ceramiaceae Gayliella ardissonei 11
Rhodophyta Ceramiaceae Gayliella dawsonii 10
Rhodophyta Ceramiaceae Pseudoceramium oliveiramum 10
Rhodophyta Champiaceae Champia minuscula 10
Rhodophyta Colaconemataceae Colaconema hypneae 10
Rhodophyta Corallinaceae Jania capillacea 10
Rhodophyta Corallinaceae Jania cubensis 11
Rhodophyta Corallinaceae Jania pumila 10
Rhodophyta Corallinaceae Jania rubens 10
Rhodophyta Corallinaceae Jania subulata 11
Rhodophyta Delesseriaceae Dasya rigidula 10
Rhodophyta Delesseriaceae Heterosiphonia crispella 10
Rhodophyta Delesseriaceae Heterosiphonia crispella var. laxa 11
Rhodophyta Delesseriaceae Taenioma nanum 10
Rhodophyta Erythrotrichiaceae Erythrotrichia carnea 10
Rhodophyta Erythrotrichiaceae Sahlingia subintegra 10
Rhodophyta Gigartinaceae Chondracanthus acicularis 10
Rhodophyta Porolithaceae Harveylithon rupestre 1
Rhodophyta Porolithaceae Porolithon antillarum 10
Rhodophyta Porolithaceae Porolithon pachydermum f. nexilis 11
Rhodophyta Rhodymeniaceae Botryocladia pyriformis 10
Rhodophyta Rhodomelaceae Bryocladia atlantica 10
Rhodophyta Rhodomelaceae Bryocladia scopulorum 10
Rhodophyta Rhodomelaceae Bryocladia subtilissima 10
Rhodophyta Rhodomelaceae Dipterosiphonia dendritica 10
Rhodophyta Rhodomelaceae Lophosiphonia obscura 10
Rhodophyta Rhodomelaceae Palisada perforata 10
Rhodophyta Rhodomelaceae Polysiphonia exilis 10
Rhodophyta Rhodomelaceae Polysiphonia havanensis 10
Rhodophyta Rhodomelaceae Polysiphonia saccorhiza 10
Rhodophyta Solieriaceae Wurdemannia miniata 10
Rhodophyta Sporolithaceae Sporolithon ptychoides 1
Rhodophyta Wrangeliaceae Anotrichium tenue 10
Rhodophyta Wrangeliaceae Griffithsia caribaea 10
Rhodophyta Wrangeliaceae Griffithsia schousboei 10
Rhodophyta Wrangeliaceae Pleonosporium polystichum 10
Rhodophyta Wrangeliaceae Spermothamnion investiens 10
Rhodophyta Wrangeliaceae Wrangelia argus 10

Como citar

Para citação de informação proveniente da consulta à lista de espécies de plantas do(a) Reserva Biológica do Atol das Rocas, usar:
Villaça R, Moraes FC, Cassano V, Silva CC, Karez CS, Nunes JMC, Santos GN, Bahia RG, Ribeiro CM, Salgado LT. 2024. Lista de espécies de macroalgas marinhas da Reserva Biológica do Atol das Rocas. In: Catálogo de Plantas das Unidades de Conservação do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: [https://catalogo-ucs-brasil.jbrj.gov.br]. Acesso em dia/mês/ano.

Contato: lsalgado@jbrj.gov.br

Publicações

1 - Amado-Filho GM, Moura R.L., Bastos AC, Francini-Filho RB, Pereira-Filho GH, Bahia RG, Moraes FC & Motta FS. 2016. Mesophotic ecosystems of the unique South Atlantic atoll are composed by rhodolith beds and scattered consolidated reefs. Marine Biodiversity 46: 933-936.
2 - Gherardi DFM & Bosence DWJ. 2001. Composition and community structure of the coralline algal reefs from Atol das Rocas, South Atlantic, Brazil. Coral reefs, 19: 205-219.
3 - Kikuchi RKP & Leão ZMAN. 1997. Rocas (Southwestern Equatorial Atlantic, Brazil): An atoll built primarily by coralline algae. Proceedings of the 8th International Coral Reef Symposium 1: 731-736.
4 - Kikuchi RKP. 2002. Atol das Rocas, Litoral do Nordeste do Brasil - Único atol do Atlântico Sul Equatorial Ocidental. In: Schobbenhaus C, Campos DA, Queiroz ET, Winge M & Berbert-Born MLC (Eds.), Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. DNPM/CPRM, Brasília: 379-390 pp.
5 - Oliveira Filho EC & UgadimY. 1974. New References of Benthic Marine Algae to Brazilian Flora. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo 2: 71-91.
6 - Oliveira Filho EC & Ugadim Y. 1976. A survey of the marine algae of Atol das Rocas (Brazil). Phycologia 15: 41-44.
7 - Moraes F, Ventura M, Klautau M, Hajdu E & Muricy G. 2006. Biodiversidade de esponjas das ilhas oceânicas brasileiras. In: Alves, RV & Castro JWA (Orgs.), Ilhas oceânicas brasileiras: da pesquisa ao manejo. Ministério do Meio Ambiente - Secretaria de Biodiversidade e Floresta, Brasília: 147-177 pp.
8 - Plano de Manejo.
Disponível em: https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/biodiversidade/unidade-de-conservacao/unidades-de-biomas/marinho/lista-de-ucs/rebio-atol-das-rocas/arquivos/rebio_atol-das-rocas.pdf
9 - Villaça R. 2009. Recifes Biológicos. In: Pereira RC & Gomes AS (Orgs). Biologia Marinha. 2a.. Edição. Ed. Interciência, Rio de Janeiro: 399-420 pp.
10 - Villaça R, Carvalhal FA, Jensen VK & Knoppers B. 2010. Species composition and distribution of macroalgae on Atol das Rocas, Brazil, SW Atlantic. Botanica Marina 53: 113-114.
11 - Villaça R, Pedrini AG, Pereira SMBA & Figueiredo MAO. 2006. Flora Marinha Bentônica das Ilhas Oceânicas Brasileiras. In: Alves RJV & Alencar JW (Orgs.). Ilhas oceânicas brasileiras: da pesquisa ao manejo. MMA/SBF, Brasília: 105-146 pp. Disponível em: DOI: 10.13140/RG.2.2.27161.42085
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