Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque
O Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (PNMT) foi criado em 22 de agosto de 2002 por meio de Decreto Federal (sem número), abrangendo uma área de 3.865.000 hectares e um perímetro de 1.921 km. É o maior parque nacional do Brasil e a maior unidade de conservação de florestas tropicais do mundo. Localizado entre as coordenadas W 54º47’–E 51º30’ e N 3º30’–S 0º30’, o PNMT faz fronteira com a Guiana Francesa e o Suriname. O parque ocupa uma faixa alongada na margem direita do rio Jari, que delimita a fronteira entre os estados do Amapá (98,8% da área total) e do Pará (1,2%, no município de Almeirim). No Amapá, estende-se pelos municípios de Laranjal do Jari, Oiapoque, Calçoene, Serra do Navio e Pedra Branca do Amapari. Originalmente pertencentes ao INCRA, essas terras foram identificadas como área prioritária para conservação da biodiversidade em estudos realizados pelo IBAMA em parceria com o PRONABIO (Ministério do Meio Ambiente). O parque é atravessado pelas nascentes de quatro dos principais rios do Amapá: Araguari, Amapari, Oiapoque e Jari.
O relevo do PNMT combina planícies amazônicas setentrionais e o Planalto das Guianas, destacando-se a Serra do Tumucumaque, que dá nome à unidade (na região oeste), com afloramentos rochosos de até 700 metros de altitude. Outras formações notáveis incluem as Serras Lombarda (leste) e Uassipein (centro). A vegetação predominante é a Floresta Ombrófila Densa, nas variações de terra firme, aluvial e submontana, complementada por tabocais e vegetação pioneira sob influência fluvial. O plano de manejo do parque foi publicado em 2010 (Portaria ICMBio nº 28), e a unidade integra o Mosaico da Amazônia Oriental, instituído em 2013 (Portaria MMA nº 04). Entre as principais ameaças ao PNMT estão o garimpo ilegal de ouro, a caça e pesca predatórias, a exploração irregular de madeira e produtos não madeireiros, e as ocupações ilegais às margens do rio Oiapoque.
Durante a elaboração da lista de espécies do PNMT, identificamos um número expressivo de coletas realizadas antes do decreto de criação desta unidade de conservação. Contudo, essas amostras não puderam ser incluídas por apresentarem incertezas quanto à sua localização geográfica exata. Observamos, em primeiro lugar, a dificuldade em reconhecer uma área designada como “Tumucumaque” nas coletas históricas, uma vez que o termo não aparece nas etiquetas de herbário antes da criação do parque. Identificamos apenas registros sob o nome “Tumuc-Humac”, atribuídos principalmente ao coletor J.J. Granville, anotados como provenientes do Amapá, Brasil, mas que provavelmente correspondem a coletas efetuadas no Suriname e na Guiana Francesa, muitas delas na localidade “inselberg Talouakem”. Além disso, outras coletas realizadas ao longo dos rios Araguari, Amapari, Oiapoque e Jari também não puderam ser incorporadas, pois não foi possível determinar se ocorreram dentro dos limites atuais do parque ou em trechos desses rios situados fora do parque. Diante dessas incertezas, optamos por compor a lista apenas com as coletas realizadas a partir da criação do PNMT, assegurando a confiabilidade de que todas as espécies registradas provêm de área de proteção integral. Ainda assim, disponibilizamos uma lista complementar contendo esses registros (com duplicatas) que não foram adicionados à lista do PNMT, de modo a preservar e tornar acessíveis informações potencialmente relevantes para futuras investigações (Anexo 1). Ressaltamos que este tipo de dificuldade pode ser comum a outras unidades de conservação do Brasil, especialmente quando os topônimos registrados nas etiquetas de herbário não correspondem aos nomes geográficos reconhecidos (sejam eles antigos ou atuais), o que exige cautela e análise crítica na interpretação dos registros históricos. Também pode ser recorrente a dificuldade de identificar coletas realizadas ao longo de rios que atravessam as unidades de conservação, em especial em áreas protegidas da Amazônia, onde a ampla extensão e a dinâmica fluvial tornam mais complexa a delimitação precisa das localidades de coleta.
As primeiras coletas científicas registradas após o decreto de criação do PNMT datam de 2005 e 2006, realizadas por A. Lobão, M.J.G. Hopkins e M.O.S. Hamada. Posteriormente, novas expedições foram conduzidas em 2013 (M.J.G. Hopkins) e entre 2017 e 2019 (H. Medeiros, P. Labiak, R. Goldenberg e R.C. Forzza). As amostras encontram-se majoritariamente depositadas no herbário RB, embora coleções representativas também estejam preservadas nos herbários HAMAB, IAN, INPA e UPCB. Atualmente, a lista de espécies conhecidas para o parque reúne 664 espécies, incluindo 592 angiospermas, duas gimnospermas e 70 samambaias e licófitas. Embora ainda não reflita toda a riqueza florística da maior unidade de conservação do país, este inventário representa um passo fundamental no registro e na valorização da biodiversidade protegida. O PNMT é uma unidade de conservação de difícil acesso e tem sua pesquisa científica viabilizada graças ao apoio da equipe gestora da unidade, em especial do Dr. Christoph Jaster, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela organização das expedições botânicas na área.
Anexo 1. Lista complementar de registros do Jabot, Reflora e speciesLink com localidades não confirmadas para o PNMT.
