Parque Nacional do Pico da Neblina
O Parque Nacional do Pico da Neblina é uma Unidade de Conservação (UC) brasileira de proteção integral localizada na Região Geográfica Imediata de São Gabriel da Cachoeira, norte do estado do Amazonas, na província geológica da Amazônia Ocidental, fazendo fronteira com a Venezuela. Possui área de 2.252.616,84 hectares, com território distribuído em dois municípios, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira. O Parque foi criado no dia mundial do Meio Ambiente, em 1979, e abriga os dois picos mais altos do Brasil e da América do Sul a leste dos Andes, o Pico da Neblina, com 2995,30 metros de altitude, e o Pico 31 de Março, com 2974,18 m (IBGE 2016). Esta UC compreende áreas extensas do relevo aplainado localizado no interflúvio Negro-Uaupés, tendo como principais feições as cordilheiras ou tepuis ressaltados por picos íngremes e morros isolados, além de uma grande planície. Destacam-se entre as elevações do Parque, além do vasto maciço do Pico da Neblina, a Serra do Imeri, com ponto culminante a mais de 2300 m, que se estende por mais de 100 km na direção leste-oeste, a sudeste do Pico, e a Serra do Padre, ou Serra do Tatu, situada a sudoeste do Pico, com altitudes menores, cerca de 1000 m. Esses ambientes montanos e altimontanos acima dos mil metros de altitude criam um imenso mosaico de formações vegetacionais, como matas nebulares, vegetação sobre afloramentos rochosos e brejos, que se somam às florestas de terra-firme, campinaranas e matas inundadas da maior parte do Parque, resultando em diversidade ímpar no domínio amazônico.
A existência da Serra da Neblina foi primeiro notada por Spruce (1908), que a teria avistado quando escalou a Piedra del Cocuy, próxima à tríplice fronteira Brasil/Colômbia/Venezuela. Em 10 de abril de 1953, Maguire vislumbrou, do mesmo ponto, a mesma Serra. Em 1 de janeiro de 1954 a atingiu pelo lado Venezuelano e, oficialmente, a descobriu (Brewer-Carías 1990). Os membros da expedição denominaram o maciço todo "Cerro de la Neblina" (Maguire 1955). Posteriormente, numa segunda expedição, denominaram seu ponto mais alto de Pico Phelps (Maguire 1959), um pico duplo com cumes separados por apenas 687 m e quase da mesma altitude, que são hoje o Pico da Neblina e o Pico 31 de Março. O maciço todo, no entanto, já era originalmente denominado Yaripo (Montanha do Vento) pelos Yanomami. Na década de 1960, uma terceira expedição, pelo lado brasileiro, foi empreendida por Maguire, Steyermark e Murça Pires. Durante as décadas de 1970 e 1980, diferentes botânicos realizaram coletas na região. Já no século XXI, o Parque foi objeto de pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e da Universidade de São Paulo/Exército Brasileiro. Essas expedições possibilitaram um aumento no conhecimento da flora, principalmente de sua área montanhosa. Também o Instituto de Pesquisas da Amazônia promoveu muitas coletas, especialmente na área da Reserva Biológica Morro dos Seis Lagos, com sua área de 36.900 ha completamente inserida no Parque Nacional. A Rebio Morro dos Seis Lagos é drenada por riachos da bacia do Rio Negro e engloba seis lagos, que deram origem ao seu nome, com cores diferentes, devido a minerais dissolvidos. Ela protege inselbergues que contêm minerais valiosos, que podem ser os restos de um longo processo de pediplanação.
Há atualmente cerca de 6.500 coleções botânicas oriundas do Parque Nacional do Pico da Neblina (incluindo aquelas da Rebio) depositadas em diversos acervos e disponíveis online em diferentes bancos de dados. Cerca de 85% das amostras provenientes da área estão identificadas em nível específico, resultando em uma lista com 1.047 espécies de plantas vasculares (119 samambaias e licófitas; 5 gimnospermas; 923 angiospermas). No entanto, o PARNA da Neblina é um dos maiores e ao mesmo tempo um dos mais diversificados da Amazônia em termos de fisionomias vegetacionais. Ele tem sido objeto de relativamente poucas coletas em apenas alguns pontos, como os arredores do Pico da Neblina, ao longo da rodovia não pavimentada que liga São Gabriel da Cachoeira a Cucui, e de alguns grandes rios, como o Cauaburi. Mesmo a região relativamente mais explorada, o setor brasileiro da Serra da Neblina, a despeito de sua área menor, mostra defasagem manifesta em relação ao que já foi registrado na porção venezuelana. A imensa maioria do território do Parque nunca foi explorada botanicamente e os totais de coletas revelam-se inferiores aos de unidades menores, como a Estação Ecológica de Maracá, que possui quase 18 mil registros online e 1.120 espécies de plantas vasculares registradas até o momento (Colli-Silva et al. 2020). Assim, muitas novas expedições a pontos inexplorados são necessárias para suprir a lacuna de conhecimento sobre esta que pode ser considerada a mais emblemática unidade de conservação da Amazônia.